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Watchmen: Quem vigia as sequências em série?

Atualizado: 28 de fev. de 2020

Desde os primeiros rumores de uma adaptação da grande obra de Alan Moore, Watchmen, muito era falado sobre como o formato perfeito seria em uma série da HBO. No entanto, em momento algum era cogitado o fato desta adaptação vir como uma sequência dos eventos mostrados nas páginas da DC, 32 anos atrás.


Pegando o nome original de seu material base, a aposta do visionário Damon Lindelof consistia num material aberto tanto para os mais fanáticos dos quadrinhos, quanto os novos telespectadores que somente queriam ver a nova produção do canal. Iniciando com o massacre histórico de Tulsa em 1921, Watchmen já demonstrava o desprendimento para uma história nova nesse mundo já conhecido. Resgatando este evento muito escondido por décadas, a história americana novamente seria contada em paralelo com o avanço dos personagens. Deixávamos Nova York e a aurora da guerra fria, que dividiu o mundo entre capitalistas e comunistas, e nos dirigimos para Oklahoma, onde esta mesma divisão é atualizada em questões raciais.


Tendo montado o tabuleiro, peças como Angela Abar (Regina King), uma ex-policial que atua como vigilante mascarada e Looking Glass (Tim Blake Nelson), uma versão atualizada do Rorschach, acompanham os velhos conhecidos Laurie Blake (Jean Smart) e Adrian Veidt (Jeremy Irons) neste grande quebra cabeça de conspirações e reviravoltas. Com um elenco tão grandioso garantindo as atuações, o foco crescia cada vez mais para recebermos uma sequência à altura. E fugindo da maldição rogada por Alan Moore, o tivemos.


A produção da série arriscadamente decidiu seguir o final polêmico das HQs ao do filme de 2009, onde ao invés de um cataclisma gerado pela energia simulada do Dr. Manhattan, o evento que uniria as nações seria a chegada de um alienígena psíquico. Tendo consequências severas em um mundo com política e geografia desenhada, a série aposta no visual mais “tosco” e realista dos heróis, ao contrário do tratamento divino de Zack Snyder na primeira adaptação áudio visual de Watchmen.


Um segundo presente para os fãs, estaria na brilhante recriação da história do Justiça encapuzada. O primeiro herói mascarado deste mundo carregaria uma gama de paralelismos com o Superman em uma das melhores origens heroicas já mostrada na televisão. E assim como a série rima com os quadrinhos em saber construir um personagem por seu passado, ela também brinca com a narrativa desconjunta para mostrar a concepção espaço-temporal do Doutor Manhattan. Em um terceiro plano, o roteiro esticava suas pernas para uma trama medieval surtada com o grande Ozymandias velho numa mansão de criados clonados. E como um maestro de uma orquestra, a produção encaixava essas peças dispersas numa deliciosa sinfonia.


Ao fim, Watchmen soube desenvolver em níveis aplaudíveis os tons de cinza humano ao criar três ameaças crescentes e facilmente identificáveis. Seu maior trunfo, foi aproveitar bem um pequeno trecho nos extras da oitava edição de Watchmen, onde demonstra o teor de supremacia racial no new frontiersman, para justificar o racismo escrachado daqueles que leriam o diário de Rorschach e criar a sétima cavalaria. Em paralelo, o filho do senador que sancionou a lei de proibição de super-heróis, passa de um vilão clássico querendo conquistar a presidência norte-americana e retomar o poder aos republicanos, à um homem em busca de ser deus. E falando em querer ser deus, a misteriosa Lady Trieu busca desenvolver tecnologias de viagens espaciais, temporais e até mesmo destruição em nível atômico para mimetizar todos os poderes do Dr. Manhattan.


No entanto, isto não descarta a possibilidade de novas séries nesse universo, como algo focado no Coruja, ou no homem lubrificante que tanto fascinou os espectadores em sua rápida aparição. Se nos anos 80 a HQ complementava suas informações com recortes de livros e jornais ao final de cada edição, a era da tecnologia foi bastante bem aproveitada pela HBO com podcasts e blogs de informações extras relevantes para quem quiser expandir este universo, e a complexa trama.

Seja pelas pílulas de nostalgia em excesso ou pelo dispositivo mental do Dr. Manhattan, a série mostra que em alguns momentos devemos esquecer de quem nós somos, como Lindelof se esqueceu de quem foi em Lost. Os pecados de expandir demais uma história foram lavados com uma série de temporada única, onde até mesmo foi reduzido um episódio para que não se estendesse demais a trama. Estando enxuta e disponível nos serviços da HBO, Watchmen merece ser vista, revista e discutida, atingindo o mérito de marco histórico no gênero como foi seu antecessor.

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