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El Camino: Um filme desnecessário de Breaking Bad

Atualizado: 28 de fev. de 2020

Desde setembro de 2013, deixamos para trás a grande trama das metanfetamina azuis de Albuquerque. Breaking Bad e toda a saga de um ex-professor de química inserido no império das drogas com seu ex-aluno, aclamou-se como uma das maiores produções da história da TV americana, com milhões de fãs pedindo mais. Mesmo com um spin-off de Saul Goodman, o advogado da dupla, indo para sua quinta temporada em uma série prequel, o diretor Vince Gilian decidiu revisitar este universo mais uma vez, e mostrar o que aconteceu com Jesse Pinkman.


Estrelado por Aaron Paul, o filme segue a história exatamente do segundo após o fim de Breaking Bad, com Walter White morto e Jesse escapando de seu cativeiro neonazista em um El Camino (carro que dá nome ao filme). A partir daí, a jornada de Jesse inicia em uma série de visitas a pontos chaves de sua história, afim de levantar o dinheiro necessário para poder desaparecer de vez dos olhares da polícia.

No entanto, ao contrário de sua série matriz que desde o início nos expunha o objetivo central da trama, em El Camino, o foco da jornada de Jesse somente é revelado na segunda metade do filme, o que deixa grande parte da trama desinteressante entre uma jornada desmotivada, alternada entre flashbacks que não acrescentam em nada, nem desenvolvem melhor o personagem.


A confusão do filme se alastra, ao ponto que o espectador passa a se questionar da opção pelo título de El Camino, visto que o carro aparece apenas nas cenas iniciais e brevemente em um dos flashbacks. Tendo em vista o teaser e o pôster da série com bastante enfoque no veículo, imaginava-se que haveria uma relação um pouco mais intensa, tornando o carro uma espécie de coadjuvante, a lá Impala de Supernatural, ou mesmo o RV de Breaking Bad.


Sendo um reflexo de sua época, o filme peca com cansativas referências aos fãs que tentam forçar uma assinatura gasta do diretor. Apesar de serem aspectos amados da série, a cena pesada com música animada, os timep lapse, a fotografia árida, e as posições ousadas da câmera, acabam sendo um triste respiro de um diretor tentando se auto-referenciar ao invés de trazer algo novo após 6 anos.


O retorno de personagens antigos mostra-se a grande decepção para os fãs que tinham boas expectativas e teorias, onde passamos boa parte da trama em companhia do desconfortável Todd, e do personagem terciário de Robert Foster (Ed), enquanto deixamos para trás Saul, Brock e outros personagens tão importantes para a jornada de Jesse.


A participação de Heisenberg chega a ser brega, do tanto que sua construção se torna óbvia ao longo da trama. Apesar de grandes expectativas de que Walter White pudesse retornar como uma espécie de alucinação que atormentasse a cabeça de Jesse após todos os anos de culpa, o roteiro prefere destinar os últimos meses de cativeiro como um trauma definitivo do personagem, como se os anos anteriores tivessem sido apagados.


Talvez um dos maiores atrativos para aqueles que darão play no filme pelo serviço de streaming da Netflix, esteja no carisma que nos fez amar Jesse Pinkman, e evitar que o mesmo morresse nas primeiras temporadas como mandava o roteiro original da série. Porém, é triste ver uma dissociação do personagem quebrado e irreconhecível, fazendo o longa apenas aparentar ser um novo filme de Aaron Paul, mas não um filme de Jesse Pinkman. Sem as roupas características, o modo despojado de falar e as atitudes de escolhas erradas que põem tudo em risco de ser perdido, o personagem mostra-se completamente descaracterizado e perdido em sua nova aparição.


Mesmo nos momentos de flashback, o cansaço e a tristeza que o ator transporta causa uma estranheza que afasta qualquer nostalgia que poderia haver de Breaking Bad, além da grande vergonha alheia em seu forçado “Bitch”.


Ainda sobre caracterização, o que eram os visuais crus e viscerais que Breaking Bad trazia no submundo de Albuquerque, se perdeu no desleixo onde após meses trancafiado em uma jaula, sujo e sofrendo torturas, Jesse retorna com quilos a mais e dentes absurdamente limpos e clareados. Apesar de parecer detalhes soltos, são estes pequenos pontos que imergiam o espectador na série, e que poderão tornar este filme tão esquecível.



Por fim, El Camino segue como uma sobremesa sem gosto pedida após comer demais no jantar. Sua trama falha tanto como desfecho para um personagem que estava melhor com um futuro nebuloso e alternativo na cabeça dos fãs, assim como empobrece o material original com suas tapadas de buraco sem fundamento ou empolgação. O que era para ser um sentimento de pena pelo personagem em sofrimento, acaba causando esta sensação aos fãs mais novos que possam julgar a série pela qualidade do longa.

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