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Vingadores no Divã: A Psiquê dos Maiores Heróis da Terra

Atualizado: 28 de fev. de 2020

Vingadores Ultimato segue lotando salas de cinema, e cada vez mais cresce a discussão sobre como este evento cinematográfico se distância de um lançamento comum de cinema. Seja pelo seu sucesso arrebatador ou pela conclusão de uma saga de 11 anos, fechando pontas abertas em 21 filmes, Ultimato deixa discussões e questionamentos que sobrevivem após a sala de cinema, e sem dúvida perdurarão por alguns anos.

Falar de seus efeitos especiais impecáveis, das grandiosas cenas de batalha ou mesmo das grandes homenagens aos quadrinhos e aos filmes anteriores seria chover no molhado. Portanto, vamos nos atentar um pouco ao roteiro de Ultimato, e à sua complexa criação de personagens.

O maior cataclisma experimentado pela raça humana aconteceu. Metade da população desapareceu em prol do desejo de equilíbrio de um titã louco. Se para as pessoas comuns o baque foi extremamente difícil, já que não sabia como ou porque aquilo estava acontecendo, para os maiores heróis da terra a queda se agravava, pois, surgia a culpa. A sensação de que podiam ter evitado ou feito algo a mais. E como lidar com isto 5 anos depois?


Lidando com o trauma

Logo nas primeiras cenas do filme somos aos poucos apresentados à uma subversão da essência primária na equipe original de vingadores. Tony Stark, um exímio workaholic, acaba abdicando de tudo para uma aposentadoria afastada com sua família. Steve Rogers, o sempre grande líder Capitão América, não consegue mais estar a frente da equipe. Se durante esta década nos acostumamos vendo Steve salvando os fracos e oprimidos com sua força, agilidade e destreza, desta vez vemos o Capitão seguindo os passos de seu amigo e salvando as pessoas por meio dos diálogos sobre como lidar com o trauma que sofreram.

Natasha Romanoff, a Viúva Negra que sempre agia sozinha e resolvia tudo por ela mesma, acaba assumindo o posto de líder do Vingadores, e abraçando aqueles como sua verdadeira família. Em contraponto, Clint Barton pendura o arco de Gavião Arqueiro e assume o capuz de Ronin, em uma cruzada de vingança contra um inimigo intangível. Tendo de lidar com a perda completa de sua família, Clint não tem como atingir o verdadeiro culpado, o que o destina a exterminar qualquer pessoa fora das regras de conduta estabelecidas pelo mesmo. Já na nova Asgard, o guerreiro mitológico Thor que vivia por batalhas e já havia sido expulso uma vez de seu reino por sua sede de guerra, acaba virando uma espécie de hippie que alimenta sua culpa em distrações mudanças de curto prazo.

Por fim, nosso querido gigante esmeralda acaba utilizando-se do trauma para fazer as pazes com sua personalidade interior e chegando à completude individual. Médico e monstro tornam-se um só, e a criatura que estava sempre com ódio, torna-se a mais pacífica.


Família

Não apenas uma forma de reaver as joias do infinito e reverter o estalo de forma física e literal, mas a viagem no tempo nos é mostrada como a ferramenta necessária para consertar nossos heróis mais antigos de forma individual.

Desde o início desta saga, vimos ao longo dos filmes a culpa que Tony adereçava à seu pai por sua criação rígida e ausente, causando seu comportamento rígido e egocêntrico. Completamente quebrado pelos eventos recentes, ele tem a chance de encontrar seu pai mais uma vez, agora como um desconhecido amigável. Por mais sutil e quase despercebido que passe este diálogo, ele é a essência para o homem de ferro descobrir as reais motivações de seu pai ao estar fazendo tudo por ele e amá-lo desde antes do nascimento.

Este diálogo originado pela recém paternidade de Tony, o liga diretamente com o pau em uma relação que nunca imaginaria ter, mesmo que por poucos minutos. Em conversas e uma despedida tardia, porém necessária, Tony se reconecta com sua essência heroica tendo fechado a grande ponta aberta de seu passado. Conectando sua relação com o pai, com a filha e seu relacionamento paternal com Peter Parker, o ciclo emocional de Tony pode ser resumido em Responsabilidade.

Ainda na onda de questões mau resolvidas com seus progenitores, o místico Thor que aparentemente carregava sobre os ombros a culpa de não ter conseguido matar Thanos quando teve a chance, aborda uma dívida ainda mais antiga quando não esteve presente para salvar sua própria mãe. O herói que sempre viveu à sombra e esperança do pai, encontra em sua mãe o caminho para tornar-se quem ele realmente é. Em contato com seu passado, Thor pela primeira vez é livre para ser quem quer ser, e não quem esperam que ele seja. Mesmo seu cômico físico relaxado é uma grande demonstração deste seu novo momento.

Indo para Volmir, a Viúva Negra houve do arauto da joia da alma pela primeira vez o nome do seu pai. A espiã fatal e imbatível abraça seu sacrifício ao se desprender de qualquer ligação sanguínea, e vendo em sua vida uma forma de salvar sua família adquirida. Do outro lado, Clint presencia este sacrifício como motivador para trocar sua cruzada de vingança por sua mulher e filhos pelo esforço de trazê-los de volta, e a partir dali buscar sua redenção.


O desfecho

A conclusão de um ciclo tão longo e completo não poderia encerrar se não pelas mãos daqueles que estavam lá no primeiro momento. Com seu sacrifício, a Viúva Negra vive não só como uma boa memória, mas como um norte de inspiração para novas heroínas que seguirão seu legado. Clint retoma seu posto de Gavião, reencontrando sua veia heroica em um instinto de sobrevivência acima da vingança suicida que vimos no início do longa. Thor conclui seu arco de crescimento, com a dignidade, a raiz nórdica, a veia cômica e os raios. Por mais que ao longo dos anos o Deus do Trovão tenha sido construído de formas diferentes, um amálgama de suas facetas conclui o crescimento completo de seu arco.

Por fim, temos a dupla que seguiu como força motriz para esta saga. Aquele que diziam não se sacrificar por ninguém, agora dá sua vida pela dos demais. A frase "eu sou o homem de ferro" que em 2008 apenas ratificava o ego daquele que não aguentaria guardar o segredo de sua vida dupla de super-herói, agora representa a essência pura de um super-herói.

Steve Rogers, que era tido como um sujeito comum que havia tido tudo de especial tirado de um frasco químico, mostra ter a dignidade de um deus. Se nos anos 40 o jovem garoto magrelo dizia poder aguentar o dia todo os socos de um bully, agora ele se levanta sozinho e ferido contra um exército inteiro.

Os arcos de Steve e Tony se cruzam como opostos. Enquanto o Homem de Ferro constrói uma evolução com mudanças visíveis a cada passo, encerrando como uma pessoa completamente diferente, o Capitão América se mantém rígido em sua personalidade e ideias. O progressista e o conservador.

Mesmo que de forma diferentes, ambos têm a mesma bela conclusão, digna dos mais nobres: o descanso. Tony repousa em paz sabendo que por causa dele tudo ficará bem, enquanto Steve retoma seu tempo perdido, tendo a última dança todas as noites.

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