Aves de Rapina: O Filme da Arlequina
- Pipoca de Pedra
- 5 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de fev. de 2020
Perto de completar 10 anos do início de seu universo cinematográfico compartilhado, a DC parece finalmente estar conseguindo se estabilizar em grandes acertos contínuos, e principalmente condensar seus acertos em uma única obra. Vamos à formula: pegue a diversão calorosa de Shazam, junte com tudo o que deu certo em Esquadrão Suicida, tempere com o slow motion e a bela fotografia de Zack Snyder, e finalize com a liberdade criativa de Coringa. Estes são os ingredientes de Aves de Rapina: Arlequina e sua fantabulosa emancipação.
O longa desde o início trás os prós e contras que o acompanharão até subir os créditos. No lado positivo, temos uma prova por A mais B que o problema de seu antecessor era de fato o roteiro e a montagem, e que aquela edição estilizada ao extremo pode sim funcionar muito bem. Seja pela narração em off, pela quebra da quarta parede ou mesmo pela escolha de uma violência escrachada, o longa mostra mais do que nunca a larga influência que deadpool causou no cinema de heróis.
Mas nem tudo são flores nesta colorida aventura da palhaça do crime. A mesma identidade visual que torna o filme apaixonante e esteticamente admirável e quase único, é o que a trai quanto ao demonstrar quem é o seu público alvo. Se por um lado o longa das heroínas da DC traz uma grande violência, palavrões e consumo explícito de drogas, em outro ele abraça a forma com que a personagem central cativou o público infanto-juvenil ao trazer inserções de animações infantis na trama e até mesmo criar um laço entre uma criança e Arlequina como a representação do público dentro da tela. Isso faz com que o filme seja uma constante onda de indecisão sobre pra quem ele vem sendo feito, onde a ausência das partes que subiram sua censura para 18 anos, não fariam falta ao roteiro.
Apesar deste filme de equipes femininas ser bastante inovador ao quebrar padrões de objetificação das personagens, não trazer interesses amorosos como ponto central e conseguir criar identidades visuais e pessoais complexas e interessantes para as personagens, ele em outro lado peca em erros simples e clichês. A escolha de Ewan McGregor como o vilão Máscara Negra foi um enorme acerto, seja pelo visual, pelos fetiches sádicos, pela pintura machista que o personagem constrói, ou mesmo pelos característicos gritinhos que já o colocam no hall de grandes antagonistas da DC nos cinemas. Porém, por mais que a escolha da máscara seja algo bastante fiel ao material original e traga um visual interessante, o seu uso mínimo e injustificável se perde no roteiro, como uma limitação por não poder esconder muito o rosto do ator.
Estes pontos negativos se estendem ainda à outro fã service. A introdução da Hiena Bruce sem importância alguma para a trama acaba agradando aos fãs, mas tomando tempo de tela que poderia favorecer mais ao desenvolvimento da equipe.
Ao restante dos personagens, Victor Zsasz cumpre seu papel como mero capanga à sombra do vilão principal, e deixa os holofotes para o quinteto que realmente importa. A personagem de René Montoya abre finalmente o leque da GCDP nos cinemas de uma forma nova, mostrando o departamento como algo sujo e oportunista. Porém, com a possibilidade de um filme solo da personagem com outros policiais enfrentando grandes vilões de Gotham antes de sua aposentadoria no cargo. O mesmo acontece com Canário Negro, que acaba trazendo parte de seu passado para um futuro aprofundamento da heroína em outros longas, e quem sabe uma aventura ao lado de um certo arqueiro verde. Por outro lado, Cassandra Cain e a Caçadora seguem quase como coadjuvantes do grupo principal, onde a pequena ladra encerra seu arco como a Sidekick de Arlequina, e a assassina da besta ganha um visual mais próximo aos quadrinhos e encerra seu arco de vingança.
Mas claro, não daria para não citar a emancipação titulo da Doutora Harley Quinzeel em se unir ao grupo composto por Hugh Jackman e Robert Downey Jr de atores/atrizes insubstituíveis para um personagem. Apesar de ter interpretado outras grandes personagens únicas em 2019, Margot Robbie veste a camisa e o taco da anti heróina de forma cada vez mais impressionante e de assinatura admirável. Seja na construção da fala acelerada, no andar ao mesmo tempo feminino e ameaçador, ou nas acrobacias circenses, a criação de Robbie manterá por muito tempo esse universo vivo, mesmo que paralelo aos de Matt Reeves e Todd Phillips.
Por fim, Aves de Rapina em vezes beira o sadismo de seu antagonista de forma divertida, com um suave toque de humor negro, uma trilha sonora divertidíssima com grandes clássicos do rock de vocalistas mulheres, coreografias de luta de tirar o fôlego e situações absurdas de arrancar boas risadas. O longa é um sopro de esperança para o universo Batman sem o Batman, e um tremendo epílogo para o vindouro novo Esquadrão Suicida, além de delicioso corretivo do primeiro filme do grupo.
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