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(Crítica) Corra Jordan Peele!

Atualizado: 28 de fev. de 2020

Get Out (no Brasil: Corra!) é mais uma grata surpresa da sempre promissora Blumhouse Productions. Depois de agraciar os cinemas com clássicos modernos do horror como Atividade Paranormal e Sobrenatural, a produtora segue como uma figura constante na premiação do óscar desde Whiplash em 2014. O filme marca a estréia de Jordan Peele na direção do já carimbado Daniel Kaluuya (Sicario, kick-ass 2 e Black Mirror) e da também estreante Allisom Williams. Segundo Peele, o longa se trata de um "terror-social", sendo o primeiro de uma série de filmes do gênero. Para o Globo de Ouro, trata-se inclusive de uma comédia. Mas qual a verdadeira mensagem por trás do filme? Ele realmente tem chances no òscar este ano?

O filmes se encaixa em quatro das grandes categorias da premiação, sendo Melhor Ator (Kaluuya), Roteiro Original, Direção e Melhor Filme (Jordan Peele).

A sinopse do filme se baseia numa plot simples. Um casal viaja para conhecer a casa dos pais da moça, e lá uma série de anormalidades começam a rondar a casa com seus estranhos habitantes. Até aí, teríamos apenas um segundo remake de As esposas de Stepford (refilmado em 2004 como Mulheres perfeitas), mas uma grande alegoria social começa a trazer temas de escravidão e demais manifestações contemporâneas de racismo. O roteiro em si é repleto de camadas que pedem uma segunda vista e justificam sua indicação na premiação. Em primeira vista, ele pode parecer meio verborrágico e auto-explicativo em alguns momentos, principalmente nas explicações em vídeo à vítima que sofreria uma espécie de morte cerebral, a predição da luta quando falam de jiu-jitsu e outras cenas de contextualização forçada.

Alguns erros de continuidade (pessoa levantando duas vezes do chão, ou entrando duas vezes na sala, quando a câmera vira e torna) podem complementar positivamente o ar de estranheza trago pela alegoria (algo também visto em Mãe!, do mesmo ano). Mas são os pequenos detalhes que fazem o texto de Peele tão especial.

A cena em que o policial pede os documentos de Chris e é impedido por sua namorada, sendo justificado ao final como ela não o defendendo, mas evitando o registro de ocorrência que mostraria onde ele havia "sumido"; o jardineiro/avô da família que corria a noite pelo campo, relembrando o tempo em que havia perdido nas olimpíadas de 1936; a batida na colher como simbolo de hipinose, quando historicamente o ato representa o "privilegio"; Rose comendo o cereal separado do leite para não misturar coisas brancas de "não brancas"; Chris sendo obrigado a "colher algodão" para sobreviver; e a alusão do escape pela câmera do celular, que durante anos serviu de arma para denunciar atos criminosos de racismo.

Toda essa construção de clima, atrelado às ótimas atuações fazem do filme um grande merecedor de ter seu nome na premiação (ainda mais quando um filme de fevereiro é lembrado pela acadêmia do óscar). Cercado pelo peso de sua crítica social (ainda mais em tempos da denúncia "Oscar so white"), o filme vem acompanhado na premiação de seus antecessores do tema, como Estrelas além do tempo, e os vencedores 12 anos de escravidão e Moonlight, e Selma, que também trazia atuações de Lakeith Stanfield e Stephen Root.

Mas será que é a vez do estreante visionário levantar a estatueta? Terá Kaluuya surpreendido mais aos votantes do que Gary Oldman ou a despedida emblemática de Daniel Day-Lewis? Será o estreante Jordan Peele a arrancar das mãos de Guilhermo del Toro na direção ou produção?

Bem, o importante é que seguimos na torcida do merecido óscar de roteiro original, apesar de não tão original assim...

A ideia surgiu do Stand-up do humorista Eddie Murphy, onde ele conta o terror de visitar os pais brancos de sua namorada. A inspiração foi tanta, que Murphy foi o primeiro cotado para o papel principal no início das gravações, sendo rejeitado por ser velho demais.

Outra grande inspiração para o filme foi A noite dos mortos vivos (1968), de George Romero. O grande clássico do terror, sendo o primeiro a ter um negro protagonista, e ainda lutando com zumbis numa afastada casa de campo. A fonte das inspirações continuam no grande final apoteótico de Django Livre, de Quentin Tarantino, obra similar onde um negro escravo se rebela no final matando todos os seus senhores de forma brutal e sanguinolenta.

O descaso do roteiro com a mão furada do rapaz ( que após ter sido atravessada por inteira, ainda abre maçanetas, dirige e é usada para enforcar normalmente, sem dor ou sangramento), e o grande excesso de alívios cômicos (chegando a considerar o filme como comédia no Globo de Ouro, conforme anteriormente citado), mostram os erros básicos de um iniciante que entrega um trabalho muito bom, mas que deixa o aguardo para um próximo impecável.


E caso não tenha percebido que o casal veste a bandeira americana, Corra!

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