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1h: O Que faz de Watchmen tão importante

Atualizado: 28 de fev. de 2020

Quis custodiet ipsos custodes? Ou quem vigia os vigilantes? Este termo em latim de Décimo Júnio Juvenal, o poeta romano por trás das Sátiras romanas, discutia quem poderia punir e vigiar aqueles cuja função é, de fato, punir e vigiar o próprio povo. Em meio a estes ataques satíricos e reflexivos contra a força policial e política, o quadrinista britânico Alan Moore recria o gênero de super-heróis em sua obra prima, no ano de 1986.


Alan Moore e Dave Gibbons comemoram o sucesso da HQ


O Cenário de Quadrinhos da Época

Estamos em junho de 1986, onde os super-heróis se esforçam para sair de uma grande era das trevas que ameaçava seus maiores títulos. Iniciada com a criação do Superman em junho de 1938, a era de ouro dos quadrinhos trazia um grande panteão de heróis que ajudavam a população americana a abstrair um cenário de crises, guerras e desesperança. Apesar de bastante difundidos entre soldados da segunda guerra, os quadrinhos, em sua linguagem, atingiam um público amplamente infanto-juvenil, o que ocasionou um aumento em sua vigilância. Em 1954, o psicólogo Fredric Wertham publicava o livro A sedução do inocente (imagem ao lado), onde acusava os quadrinhos de possuir mensagens de violência, capazes de aumentar a criminalidade juvenil, e de homossexualidade (em suma na relação entre Batman e Robin e no comportamento da Mulher Maravilha). Com este forte golpe, a cultura de heróis foi enfraquecida por anos, até se recuperar na década seguinte com a fixação da Marvel Comics, e uma reformulação dos heróis em geral na chamada Era de Prata.

Apesar de ter sido o berço de criação para os grandes nomes que nos encantaram dos Vingadores até a Liga da Justiça, a era de prata ainda sofria com o CCA (comics code authority, criado como um selo de autocensura dos quadrinhos) que havia sido aplicado por conta do livro de Wertham. Assim, os quadrinhos se tornavam bastante infantilizados, e uma era das trevas permearia quase 15 anos, onde a nona arte passava perto de seu fim.


No entanto, uma invasão britânica acontecia nos corredores das grandes editoras americanas. Em fevereiro daquele ano, um jovem chamado Frank Miller saía das revistas do Demolidor para escrever o final definitivo para o Batman. O Cavaleiro das Trevas aplicava uma temática adulta e sombria que permeava nas bancas desde Maus (publicado por Art Spielgeman na revista Raw) até Monstro do Pântano (de Alan Moore). Miller, com sua desconstrução do modo atual de se fazer quadrinhos, abria o espaço para uma liberdade criativa absurdamente inovadora.


Neste meio, Alan Moore havia sido chamado para trabalhar os heróis da Charlton Comics (pequena editora que havia sido comprada pela DC comics no ano anterior). Trabalhando em uma pequena trama de investigação criminal, provisoriamente chamada de “Quem matou o pacificador”, Moore recebia a sugestão do atual editor geral Dick Giordano para não utilizar os heróis já estabelecidos, e aproveitar esta grande trama para trabalhar personagens inéditos.


Assim, o Besouro azul se tornou o Coruja, mantendo-se como um nerd de artes marciais e gadgets; o Pacificador tornou-se o Comediante, um soldado anti-herói violento cuja morte acaba sendo o motim da trama; Questão tornou-se Rorschach, ambos investigadores sem rostos com grande inspiração no Batman. O Dr. Manhattan acabou sendo o mais original do grupo, apesar de ele e o Capitão átomo da Charlton Comics serem heróis nucleares vindo do campo quântico, assim como Ozymandias e Espectral foram profundas adaptações de Thunderbolt e Sombra da Noite.


Assim, em parceria com seu amigo e desenhista Dave Gibbons, as seis edições de uma trama simples tornaram-se as doze edições da rebatizada WATCHMEN.


Uma nova visão para os super-heróis


A ideia de Moore e Gibbons era discutir, inicialmente, um novo ponto de vista dos quadrinhos habituais. Logo, caso existissem de fato heróis mascarados no mundo, grandes eventos haveriam sido completamente diferentes, como a guerra do Vietnã, o caso Watergate e até mesmo a popularização dos quadrinhos de heróis neste novo mundo. Esta ideia de interferência, principalmente de heróis com superpoderes, foi chamada mais tarde de Manifesto Superman.


Neste cenário, a ação de vigilantes é tida como algo ridicularizado pelas suas vestes e atitudes exageradas, e mais tarde gerando um afastamento de policiais locais em protesto contra estas ações. Em suma, o cerne dos heróis de Watchmen se estendem até mesmo à meios de extravasar sentimentos oprimidos de homossexualidade, ou libertação de ódio e traumas pessoais que eram bastante discutidos na época. Isto ocasiona uma lei que proíbe tais mascarados, desenvolvendo uma trama de ação, filosofia, moral ética e investigação criminal, atravessando gerações e criando um grande universo próprio.


Watchmen desconstrói o padrão de super-heróis clássicos e brinca com sua influência social e política. Neste panorama, uma trama de assassinato de um herói aposentado acaba desencadeando uma nova leva de vigilantes em meio à uma Nova York caótica. Alternando entre passado e futuro, quadrinhos e literatura, história e ficção, Watchmen revoluciona o meio de se contar uma história, utilizando-se das próprias capas como ponto inicial da história, e trazendo diversos pontos paralelos que convergiram neste grande épico.


A obra de Moore e Gibbons tornou-se quase uma unanimidade no título de “Melhor história de Super-heróis”. Ao longo de sua publicação, colecionou quatro prêmios Eisner (considerado “o óscar dos quadrinhos”), e até mesmo uma premiação no Hugo Awards, prêmio máximo de literatura em ficção científica que nunca havia premiado uma obra de quadrinhos. Em 2005, a revista TIME listaria Watchmen como uma das maiores obras de lingua inglesa já publicadas. Sua relevância persiste mesmo após três décadas, gerando sequências, histórias de origens, adaptações em filmes e animações, e agora uma série de TV para o canal HBO.


Tendo em vista a grandiosidade e complexidade da obra, este especial analisará em 12 partes toda a saga de Watchmen nos quadrinhos e cinema, em preparação para o primeiro episódio da série que será lançado dia 20 de outubro de 2019. Fique ligado para as novas partes, e não deixe de compartilhar e comentar sugestões e opiniões sobre esta grande bíblia dos quadrinhos.

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