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7h: É Chegada a Meia-noite

Atualizado: 28 de fev. de 2020

É chegada a hora. As peças de xadrez alinham-se para um vindouro xeque-mate a qualquer momento. Esta é a parte 7 do especial Watchmen, e hoje analisaremos as duas edições finais desta revista que mudou o gênero de super-heróis para sempre.


Assim como vimos durante todo o decorrer da obra, a décima primeira edição se dedica a analisar especificamente um personagem, abordando suas motivações e passado. Desta vez, Adrian Veidt, conhecido também como Ozymandias, conta sua trajetória ao seguir os passos de Alexandre Magno, da Macedônia, para encontrar a luz de seu destino. Apesar de ter um embasamento válido com motivações facilmente compradas, a história de Veidt surge muito tardiamente na história, colocando o personagem a beira de um Deus Ex Machina que surge ao final como um grande antagonista de desenvolvimento apressado. Apesar dos deslizes, a adaptação cinematográfica de 2009 trata melhor isto ao dividir aparições e discursos do personagem de forma mais abrangente por toda a obra.


Seu paralelo com o grande comandante macedônico, se dá pelo desejo incontrolável de unificar os povos, sendo idolatrado como uma espécie de deus incontestável. Outra característica que traça o paralelo entre ambos, é o ato de terem matado seus “generais” que poderiam atrapalhar seus ideais, antes de começar a pôr seu plano em prova.


Adrian conta a história para alguns sócios que vão aos poucos sendo envenenados pela bebida servida por ele, e acabam aparentemente mortos antes do final, mostrando que o ego do personagem supera qualquer desejo de conhecimento ou fama. Ele apenas precisa falar para si mesmo, alimentado por sua própria adoração. Apesar de condizer com o personagem, estes são os momentos mais expositivos e verborrágicos do texto de Moore, que acabaram se repetindo mais à frente quando Veidt conta seu plano.


Com a chegada de Rorschach e Coruja, Ozymandias conta que planejou forjar uma invasão alienígena, onde um monstro criado por vários artistas (misteriosamente desaparecidos ao longo da história, mas que haviam sido sequestrados por Adrian, e ao fim, mortos) aterrissaria em Nova York matando metade da população, e causando uma comoção mundial que encerrasse a guerra iminente.


Apesar de parecer absurdo, é válido analisar o potencial profético de Alan Moore, visto a comoção global existente até hoje em face dos atentados de 11 de setembro. Por mais que não tenha vindo de outro mundo, e ter alimentado uma guerra ao invés de cessá-la, o sentimento de compaixão e condolências para com a população nova-iorquina emulou o objetivo de Ozymandias 16 anos antes.


A medida que nossos heróis se reúnem no covil Antártico, os personagens paralelos à história se encontram na constante banca de revista em uma grande tensão do perigo nuclear iminente. Estranhamente, apesar de serem apenas 12 edições, ver a interação destas peças de histórias distintas dá um sentimento nostálgico, que faz sentir suas mortes com a chegada do monstro do Ozymandias.


O plano é concretizado na catártica meia-noite do dia 2 de novembro (mundialmente conhecido como dia dos mortos, ou finados). Veidt havia criado um monstro que liberasse uma grande quantidade de táquions (partículas hipotéticas capazes de viajar acima da velocidade da luz), que confundem a percepção de tempo de Manhattan e o impedem de prever tal acontecimento. Excitado por estar finalmente vivendo sem saber o que acontecerá a seguir, ele retrata o choque do espectador ao virar as páginas na sede das consequências que isto trará.


Seguindo o rastro até Veidt, finalmente temos reunidos os últimos heróis sobreviventes para o grande embate moral da situação. Se os heróis revelarem ao mundo que esta invasão foi forjada, provavelmente voltará uma tensão ainda maior de guerra nuclear capaz de exterminar a humanidade. Se ficarem calados, estarão sendo cumplices de uma chacina de metade de Nova York em prol de um plano doentio.

Além do clímax entregar a esperada reunião com as doze badaladas do plano final, a última edição é recheada de simbolismos e metáforas. A banda Pale Horse (já comentada aqui como uma analogia apocalíptica bíblica), é mostrada em um banner como em parceria com a banda Krystalnacht, em referência à “noite dos vidros quebrados” da Alemanha nazista onde negócios e propriedades de judeus foram destruídos. Esta é a forma de Moore em condenar Veidt como tendo sido o autor de um ato de violência sem sentido, onde seus fins não justificavam o meio.


Em contraponto, na mesma situação é mostrado em cartaz o filme “O dia em que a terra parou”, de 1951, onde um alienígena vem a terra para avisar a humanidade que serão destruídos se não aprenderem a conviver entre si, retratando desta vez uma defesa à ideologia de Veidt.


Outra grande analogia é tratar Ozymandias e Dr. Manhattan como contrapontos de Jesus Cristo. Ao saber que seu plano foi concluído com sucesso, Veidt levanta os braços gritando: “Eu consegui”, e colocando seus braços na posição de crucifixo, estando uma das mãos em paralelo a uma espada e outra em um bastão. Do outro lado, Dr. Manhattan ao ver Laurie tranquilizada por seu novo relacionamento com Dan, anda sobre as águas. Estas analogias abrem espaço para uma gama de interpretações de salvação e sacrifício, atenuadas pela declaração de Manhattan ao criar nova vida.



Assim como Watchmen construiu um universo com vasto passado, ele deixa ao final grandes questões ao futuro. Como o próprio Manhattan disse: “Nada simplesmente acaba. ” Com Dan e Laurie retornando ao combate ao crime, Veidt e Manhattan vivos, e principalmente o diário de Rorschach sendo publicado em um jornal, fica a dúvida de como ficou o mundo de Watchmen após uma breve paz mundial.


Apesar de ser uma obra irretocável e que deixa uma conclusão aberta para discussões, 30 anos depois nos vemos em face de uma sequência nos quadrinhos (O relógio do juízo final) e na TV (Watchmen, da HBO) que também ganharão espaço neste completo especial. Mas diga-nos, o que achou desta releitura de Watchmen? O que ficou de fora? Será o final do filme mais condizente que o das HQs? Vamos discutir isto e muito mais nas próximas partes do ESPECIAL WATCHMEN. Até lá.


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