A Primeira Família - O Guia de Leitura do Quarteto Fantástico
- Pipoca de Pedra
- 6 de mai. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de fev. de 2020

O Quarteto formado pelos Fantásticos Reed Richards, Sue Storm, Coisa e Tocha humana, foram criados (como de praste) por Stan Lee e Jack Kirby como a primeira família de super-herói dos quadrinhos. Considerados o início definitivo do universo Marvel, a família de cientistas influênciou a criação dos vingadores, x-men, liga da justiça, e segue como um dos títulos mais queridos da editora até hoje.
O quarteto sempre foi o grande tesouro de Stan Lee. Junto com Kirby, os dois ficaram 103 edições seguidas a frente da equipe (recorde que só foi batido por Brian Bendis em ultimate spider-man). Durante estes anos, surgiram clássicos como a impactante Trilogia Galactus, o dia do juízo final, e o drama Esse homem, esse monstro.
Um universo próprio era desenhado em volta da casa da equipe, o edifício baxter. Personagens como o príncipe submarino namor, o filosófico surfista prateado, e a raça alienígena dos skrulls, tornavam o título um dos mais surpreendentes da época. Sem falar, é claro, do grande soberano da latvéria Victor Voom Doom.
Uma revista de herói não é nada sem um bom vilão, e principalmente após a mega saga Guerras Secretas (Onde nosso Dr. Destino enfrenta um ser com poderes divinos), o antagonista do quarteto alçou o posto de um dos mais temidos no universo 616.

Não obstante a excelente fase de seus criadores, o quarteto caiu nas mãos de John Byrne. Byrne trouxe um filho para o casal fantástico, com a promessa de ser o herói mais poderoso que já existiu; um julgamento digno para galactus, desenvolvendo de forma magnífica o gigantesco devorador de mundos; e até mesmo novos integrantes à equipe, como uma marcante substituição da Mulher Hulk no lugar do Coisa durante algumas edições.
Walt Simonson, a mente mais amada pelos fãs do Thor, também deixou sua marca na equipe. Substituindo a equipe por hulk, aranha, motoqueiro fantasma e wolverine, Simonson fez o que a revista do quarteto mais permite aos autores. Experimentar. As surpresas e os testes de coisas novas com o pé na ficção científica é o que torna o título da revista único, atemporal e sem faixa de idade definida.

Mark Waid também seguiu uma fase marcante pela revista. Com sua capacidade incomparável de modernizar os heróis clássicos, a fase de Waid junto a Mike Weringo é chamada de "a sucessora espiritual de Lee/Kirby". Entre Imaginautas, Inconcebível e Ações autoritárias, a fase põe a família em lugares onde nunca imaginaram ir, chegando encontrar com Deus em pessoa em seu auge (genialmente desenhado com a feição de Jack Kirby).
Sem os fãs aceitarem a saída da dupla, a Marvel se viu obrigada a criar um título paralelo para a família no selo adulto Marvel Knights. Roberto Aguirre-sacada deixou o quarteto sem bens, sem lar e sem esperanças. As aventuras experimentais de Sacada ajudaram a tornar os fãs do quarteto cada vez mais adeptos a qualquer coisa que pudesse ser testada, sem limites.

O visionário Mark Millar, no entanto, fez os fãs terem receio de ver histórias mais violentas e de linguagem chula, como habitual do roteirista. No entanto, as 15 edições de Millar ao lado de Bryan Hitch remetaram a família de volta ao clássico de suas origens, com tramas íntimas e pessoais, reviravoltas inéditas como Jhonny Storm namorando uma super-vilã, a descoberta que Dr. Destino tinha um mestre, e uma porta de entrada para algo que os fãs ainda não estavam preparados.
Várias histórias mais alternativas tangenciavam o título principal dos heróis. Alan Davis decidiu imaginar como seria o final definitivo da equipe, com um drama denso, mostrando um quarteto fragmentado e tendo de enfrentar consequências do seu passado. Grant Morrison, em 1234, trouxe a faceta mais humana dos heróis, com questões de adultério, amor próprio e um clima mais pé no chão e reflexivo. O quarteto ainda assim, tinha grande participação no universo marvel em geral. Ao lado dos heróis na guerra civil, invasão secreta e afins, a interação da equipe trouxe Reed aos Illuminatis, e lembrou que todos ali estão sobre um mesmo céu.

Com a iniciativa Ultimate da Marvel estourando em vendas com Supremos, Homem-Aranha e X-men, já era em tempo do quarteto ter sua origem atualizada. Com os personagens rejuvenecidos e suas ligações amarradas de forma mais orgânica, o quarteto de Bendis e Millar presenteava os fãs com um título alternativo à altura do principal. Do outro lado, Jonathan Hickman assumia o título base e mais uma vez fazia os fãs explorarem o que há de melhor na ciência.
Com uma trama cheia de plots paralelos, se amarrando em uma trama una e concisa, a fase de Hickman rapidamente se tornou uma das mais complexas e amadas pelos fãs. Com consequências drásticas, como a morte do Tocha humana, Hickman fez a família abandar seu uniforme e nome, se tornando a grandiosa Fundação Futuro. Com participação do Aranha e até mesmo de Destino, o título da fundação mostrava a esperança do mundo na mão dos mais jovens no fantástico mundo da ciência, sem perder a essencia crucial da equipe.
Passando por constantes zeramentos da revista, Matt Fraction continuou a ideologia experimental de Hickman. O quarteto perde a guarda de seus filhos, Coisa é preso e Jhonny perde seus poderes, mostrando que nada nunca estava fácil para os heróis.

Sai o uniforme branco, e entra o vermelho na derradeira passada de James Robinson pelo título. Rumores apontava que a Marvel boicotava a revista do quarteto por conta de não possuir seus direitos cinematográficos, e os filmes da FOX sobre a equipe não irem nada bem. Sai o vermelho, retorna o azul, mas nem mesmo a nostalgia e amor dos fãs impediu que a revista fosse cancelada na edição 645 de junho de 2015.
Ao lado dos heróis mais poderosos da terra, Hickmann mostrava que nada da sua passagem, seja pelo quarteto, ou pelos vingadores, havia sido em vão. Com uma construção gigantesca de anos a fio, chegava às bancas a tão esperada e nova Guerras Secretas. Para a surpresa dos fãs do clássico, a trama teria Dr. Destino como seu grande vilão, e uma união dos Reeds do universo habitual e ultimate, enchia os olhos dos leitores de um brilho imenso. Até ser substituído por lágrimas na última edição da saga.

Nem Alan Davis, Stan Lee ou Mark Waid deu um final tão digno, coerente emocionante, e porque não, fantástico para a equipe. O duro fim da primeira família conseguiu ser tão belo e tocante, com uma construção armada por tanto tempo, que não deu espaço para reclamações. O quarteto deixou salvou a Marvel, mas no fim a deixou incompleta. Ao menos, até agora.
Após 2 anos de choramingos, Dan Slott e Sara Pichelli trazem de volta a primeira equipe de heróis dos quadrinhos. Em um mega evento planejado para Julho desse ano, o quarteto fantástico retornará ao seu lugar de direito em um título próprio e com direito a toda sua roupagem clássica. Chega de tocha humana nos inumanos. Chega de Coisa nos guardiões da galáxia. Está na hora do pau!
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