Westworld - Modo análise
- Pipoca de Pedra
- 6 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
No auge da Teogonia grega, um titã rebelde chamado Prometeu, foi encarregado junto a seu irmão para moldarem as criaturas do mundo. Deram asas, garras, presas e toda a sorte de coisas para os animais. Mas quando chegou a vez dos humanos, nenhum outro recurso restava. Sendo feito então sua imagem e semelhança, a eles foram dado a inteligência, para viverem acima dos demais. Mas Prometeu queria mais. E em um momento de desobediência, deu aos homens o fogo, para que pudessem ser de fato independentes. Sua sina, foi a eterna danação, onde seria torturado todos os dias, para na manhã seguinte, estivesse regenerado e aguentaria tudo de novo. E aos homens, foi destinado Pandora, a primeira mulher. A perfeição humana cujo único defeito, a curiosidade, a fez abrir a caixa e libertar os males do mundo.
Apesar de nunca ter sido admitido, esta provavelmente é uma das inúmeras bases de influência para a grande e acalmada nova série do canal HBO. Westworld trouxe em sua trama um par de sócios abrindo um parque onde tudo é liberado. A temática de velho oeste recheia este novo mundo onde, por uma bagatela de 40 mil reais ao dia, você pode ser um vaqueiro sem amarras sociais.
A Disney adulta de Ford e Arnold reabre suas portas nessa quentíssima segunda temporada. Com o final apoteótico do ano anterior, pegamos um novo trem num futuro não tão distante.
Ed harris, Rodrigo Santoro e companhia dão procedência após deixar todos nós boquiabertos com o balaço na cabeça do bom velhinho Anthony Hopkins, deixando o parque num estado de Jurassic Park, sem o PG13.
A confiança na série, gerada pela marca do canal e os nomes emblemáticos de J.J Abrams e Johnattan Nolan por trás dos panos, é entregue de forma digna. As linhas de tempo paralelas, flashbacks, ganchos de arrancar os cabelos e uma extensa gama de teorias, elevam westworld como a única e verdadeira "Nova lost" que tanto esperamos.
A problemática da trama se inicia quando as humanizações dos anfitriões, em forma de devaneios, surgem de profundos sofrimentos, os fazem acessar suas memórias e os permitie sair das narrativas pré-programadas. Sendo isto, uma metáfora segunda metáfora ao Darwinismo, que nos afastou da religião.
As bases de referência da série não param na mitologia grega. E não, não estou falando no incrível easter egg de músicas pop da atualidade que tocam no piano do Mariposa ou na versão shogun de Rolling Stones. A série continua a crescente de paralelo bíblico, com suas discussões de livre arbítrio, pudor, consciência e rebelação contra o criador. A Igreja central da cidade original ultrapassa o nível de apenas remeter à uma pacata cidade de interior, e traça grandes sátiras como a sala de confessionário e o roteiro de narrativa passado durante a “missa”.
Esta nova temporada ainda nos levou a pontos muito aguardados dos fãs do filme original (Westworld, 1973). Se lá tinhamos os magníficos parques de Roma e Idade Média, agora somos apresentados na série ao Shogun e Índia, criando uma sólida mitologia para o universo. Após tantos segredos revelados nos primeiros 10 episódios, o segundo ano aposta menos nas complexas linhas temporais, investindo em uma narrativa mais cronológica com flashbacks e flashfowards pontuais. Novos personagens são introduzidos de forma intrigante, e pouco a pouco caminhamos para uma trama sem amarras do passado.
Apesar de extremamente bem amarradas em suas pontas, a produção ainda peca em longas tramas que não evoluem tanto o curso da história, deixando algumas buscas um tanto estáticas para se cumprir as 10 horas da temporada. Em contrapondo, a gratidão em cada fim de temporada mescla os sentimentos de que tudo já teve seu fim, e de que não temos ideia do que virar pela frente. E isso se aflora positivamente no desfecho desse segundo ano
Westworld, apesar de ainda jovem, já traz os murmúrios de algo que ficará marcado no mundo da televisão. O elenco estrelado e os questionamentos filosóficos, completam a programação de algo memorável, mesmo para os anfitriões. Saindo do modo análise e colocando o chapéu na cabeça, aguardemos este longo hiato até reabrir as portas do parque.
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